A palavra hebraica cherub ocorre 91
vezes no Velho Testamento, enquanto a palavra grega cheroubim ocorre apenas uma vez no Novo Testamento
(Hb 9:5). Desde a primeira menção de querubins nas Escrituras, em Gênesis 3:24,
até a sua descrição mais detalhada no livro de Ezequiel, aprendemos muitas e
valiosas lições sobre estes seres que vivem tão próximos de Deus. É
interessante notar que de todas as ocorrências de querubins nas Escrituras,
sete vezes encontramos a afirmação de que “Deus habita entre os querubins”.
Três vezes essa expressão é usada de forma figurativa, descrevendo os querubins
que estavam sobre a arca da aliança (I Sm 4:4; II Sm 6:2; I Cr 13:6), e quatro
vezes se refere a querubins reais, que estão no Céu, no meio dos quais “Deus
habita” (II Rs 19:15; Sl 80:1; 99:1; Is 37:16). Além disso, duas vezes são
registradas as palavras de Davi, quando afirmou que Deus “subiu sobre um querubim,
e voou” (II Sm 22:11; Sl 18:10). Isto confirma a proximidade que os querubins
têm da própria presença de Deus. O Senhor está no meio deles.
(...) Quanto à função que os querubins
exercem, as Escrituras mostram que eles têm uma ligação direta com a santidade
e justiça de Deus. Eles são agentes do trono dispostos a executar o juízo
divino sobre os atos pecaminosos dos homens. A primeira menção de querubins
está relacionada à expulsão de Adão e Eva do jardim. Querubins foram colocados
ao oriente do jardim, bem como uma espada inflamada que girava ao redor (Gn
3:24). Simbolicamente, os querubins estavam também presentes no Tabernáculo, em
três lugares diferentes. Sobre isto, William J. Watterson diz:
“Na
cortina que formava a porta do átrio e na cortina que formava a porta da tenda,
não havia querubins. Eles estavam somente nas cortinas que formavam a própria
tenda, no véu que dividia esta tenda, e na arca. Como a tenda era coberta com
peles de animais, não seria possível ver os querubins de fora da tenda. Era
somente ao se aproximar da arca, que simbolizava a presença de Deus, que os
querubins seriam visíveis”.
No jardim do Éden o acesso estava
impedido, mantido assim pela presença dos querubins. No Tabernáculo o acesso à
presença de Deus também estava impedido, simbolizado pela figura dos querubins
no véu interior. A única pessoa que podia, uma vez ao ano, passar por aqueles
querubins era o sumo sacerdote, que entrava com sangue em suas mãos (Hb 9:6-8).
Isto é uma figura do Senhor Jesus, o Homem que entrou por nós: “Visto que temos
um grande sumo sacerdote, Jesus, Filho de Deus, que penetrou nos céus,
retenhamos firmemente a nossa confissão” (Hb 4:14). Ao penetrar nos céus o
Senhor Jesus não levou um sangue alheio, mas o seu próprio sangue, que tem
validade e garantias eternas (Hb 9:11-14). Nenhum querubim poderia impedir a
entrada deste Homem. Pelo contrário, os querubins se alegraram por ver que,
finalmente, um Homem digno em caráter e perfeito em redenção pagou o preço
pelos pecados e comprou para Deus o direito de receber todos os que estiverem
no Seu Filho.
Além do véu interior e da tenda,
o outro lugar onde os querubins estavam presentes, simbolicamente, no
Tabernáculo, era no propiciatório — que era a cobertura da arca da aliança. Em
cada uma das extremidades do propiciatório, e formando uma só peça com ele,
foram postos dois querubins de ouro (Êx 25:17-22; 37:6-9). As asas dos
querubins tocavam umas nas outras, e o rosto de cada um olhava para baixo.
Simbolicamente, estes querubins olhavam para a arca, como se estivessem
averiguando o seu conteúdo, mas o propiciatório os impedia de enxergar aqueles
objetos. Pensando no simbolismo destas coisas, podemos aprender verdades muito
preciosas sobre a redenção que há em Cristo.
Os três objetos colocados dentro
da arca eram: as tábuas da aliança, uma vasilha de ouro contendo o maná e a
vara de Arão que floresceu (Hb 9:4). Cada um destes objetos, de uma forma
positiva, nos ensina sobre as provisões espirituais que temos em Cristo. Mas de
uma forma negativa estes objetos lembram os atos de pecados do povo, porque
foram dados em ocasiões de rebeldia. As duas tábuas da Lei foram dadas num
contexto em que o povo estava envolvido em idolatria (Êx 32). Moisés quebrou as
primeiras tábuas da Lei e foi necessário lavrar outras duas (Êx 34:1), e estas
últimas foram as que ele colocou dentro da Arca. O maná foi dado numa ocasião
quando o povo, murmurando, desejou as panelas de carnes que tinham no Egito (Êx
16). A vara que floresceu foi dada depois da rebelião liderada por Coré, Datã e
Abirão, que estavam insatisfeitos com a liderança sacerdotal estabelecida por
Deus (Nm 16 e 17).
O simbolismo disso tudo é que
enquanto os querubins olhavam para dentro da Arca, eles não podiam enxergar os
pecados do povo e, consequentemente, não poderiam aplicar nenhum juízo ao povo
de Deus. O propiciatório, que é uma figura de Cristo (Rm 3:25; I Jo 2:2; 4:10),
ensinava aos querubins que aqueles pecadores que estão em Cristo estão seguros,
“nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus” (Rm 8:1). Além disso,
no dia da expiação, realizado uma vez ao ano, o sumo sacerdote aspergia sangue
sobre o propiciatório, no meio dos querubins (Lv 16:14). Com isso, o Senhor
estava mostrando aos querubins que o preço pela redenção daqueles que estão em
Cristo já foi pago. William J. Watterson diz ainda:
“Contemplando,
então, a arca, o propiciatório e os querubins, temos uma figura preciosa da
nossa propiciação.
Olhando
para o interior da arca, olhamos para dentro de nós mesmos, e vemos nossa
carne: ingrata, insubordinada e idólatra! Olhando para os querubins, somos
lembrados da santidade de Deus, e imediatamente percebemos o problema: como é
que seres pecadores como nós podem se aproximar de um Deus santo, que habita
entre os querubins?
A
resposta está no propiciatório e no sangue da propiciação. O propiciatório
cumpria duas funções; escondia os símbolos do pecado, e expunha o sangue da
propiciação. Os querubins, por causa do propiciatório, não viam o conteúdo da
arca — viam apenas o sangue.
Assim
é uma igreja local. Se olharmos para dentro de nós mesmos, veremos os lembretes
do pecado. Mas Deus nos vê no Amado, purificados pelo sangue do Senhor Jesus
Cristo. Deus nos vê, hoje, como seremos na eternidade”.
Esta verdade sobre a nossa
santificação posicional se torna ainda mais surpreendente quando lembramos que
Satanás, o inimigo das nossas almas, era um “querubim, ungido para cobrir ...
querubim cobridor” (Ez 28:14, 16). Ele tinha a função de sustentar o trono de
Deus, vivia o mais próximo possível da presença de Deus e deveria, como os
outros querubins, manter a santidade da habitação de Deus. Seu orgulho, porém,
o levou à queda, e depois de perder a sua posição honrada, se tornou um feroz
inimigo de Deus e de tudo o que se relaciona a Ele. Dia e noite este inimigo
das nossas almas acusa os servos de Deus, mas quão surpreso ele deve ficar toda
vez que o sangue de Cristo é apresentado como garantia da segurança eterna do
Seu povo. Na mesma publicação citada acima, William J. Watterson continua:
“Imagine
Satanás, ‘o acusador de nossos irmãos’ (Ap 12:10), chegando perante Deus, o
Deus que habita entre os querubins, e acusando-nos pelos nossos muitos
defeitos. Ele, que foi querubim antigamente, talvez lance em rosto daqueles que
hoje são querubins da glória, as nossas falhas: ‘Vocês que são querubins,
guardiões da santidade de Deus, não enxergam as falhas daquele povo?’ Quase
podemos imaginar os querubins olhando para o Senhor, e declarando: ‘Senhor, nós
não vemos nada daquilo com que ele acusa os Teus filhos. Nós somente vemos o
sangue do Cordeiro, que para sempre os purificou de toda mancha!’”
A pessoa de Cristo e o sangue de
Cristo são de um valor tão alto, que nem mesmo as criaturas mais próximas do
trono de Deus, os querubins, podem ver algum resquício de pecado naqueles que
estão seguros nEle. Esta é uma verdade tão sublime, que o ímpio não consegue
entender e Satanás não pode aceitar. Mas nós cremos!
(Extraído do livro “Anjos”. Já
disponível!)
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