Algumas orações nas Escrituras são verdadeiros desafios para
todos nós. Orar é o dever de todo crente, mas nem sempre oramos com o
“espírito” adequando. Pense, por exemplo, num irmão que precisa orar numa reunião
“levantando mãos santas, sem ira nem contenda” (I Tm 2:8). Ele precisa
controlar suas palavras e deixar sua raiva de lado para que possa orar por
alguém que talvez o ofendeu. Outra situação difícil é quando oramos para que
Deus dê para outra pessoa aquilo que nós mesmos não temos. Há alguns exemplos
disto na Palavra de Deus, mas quero destacar pelos menos dois, aqui.
·
Abraão – pelo
rei (Gn 20:7, 17)
Deus disse ao rei Abimeleque que Abraão era
profeta e que oraria por ele. Logo depois Abraão orou e, “sarou Deus a
Abimeleque, e à sua mulher, e às suas servas, de maneira que tiveram filhos”. Até
àquela altura da sua vida, Abraão não tinha recebido o cumprimento da promessa
de que ele e Sara teriam um filho. Entretanto, ele precisou orar para que Deus
abençoasse e desse filhos a outros casais. Será que foi fácil para ele orar
pela felicidade dos outros e ver sua oração ser atendida, enquanto ele mesmo
não tinha filho?
·
Jó – pelos seus amigos (Jó 42:8-10)
O Senhor falou com os amigos de Jó, dizendo:
“Ide ao Meu servo Jó ... e o Meu servo Jó orará por vós; porque deveras a ele
aceitarei”. Pense na situação de Jó. Ele precisou orar para que o Senhor fosse
misericordioso com os seus três amigos e lhes favorecesse, enquanto ele mesmo
estava numa situação tão deplorável. Será que foi fácil para ele orar pelo bem
dos outros enquanto ele mesmo estava em completa miséria?
Certamente não foi fácil para estes dois homens passarem por
estas circunstâncias. Enquanto oravam eles precisaram enfrentar a própria carne
que, com inveja, desejava receber o que estavam pedindo para os outros. Eles
tiveram de aprender a orar de forma altruísta, e deixar o egoísmo de lado
enquanto pediam pelo bem dos seus amigos.
Todos nós já passamos por situações assim. É precioso ver que
nossas orações pelos outros foram atendidas, e que o Senhor os beneficiou
muito. Mas, sendo honestos, não foi fácil passar por isto. Como nos sentimos
quando, orando, vemos que o Senhor deu a outros o que nós mesmos não temos
ainda?
Entre tantos outros exemplos pessoais, lembro de duas
situações que me ensinaram muito, enquanto precisei suportá-las. Quando eu era
solteiro, a maioria dos meus amigos também era, e nós sempre conversávamos
sobre a seriedade do casamento. Preocupado com eles, e eles comigo, orei muitas
vezes para que o Senhor lhes desse um bom casamento, impedindo que errassem
nesta decisão. O que aconteceu foi surpreendente. Cada um deles começou a casar
e ... eu fiquei. Quando eu me casei, aos 28 anos, muitos deles já estavam casados
e com filhos. Confesso que foi difícil passar por isso. Outra situação difícil
pela qual passei foi depois de casado. Minha esposa e eu sempre desejamos ter
uma grande família, e desde as primeiras semanas de casados já estávamos orando
para que o Senhor nos desse filhos. Como sabíamos que outros casais também
desejavam, começamos a orar por eles. E o que aconteceu? Outros casais
começaram a ter filhos, e nós não. Novamente não foi fácil passar por isto, mas
precisávamos aprender a lição.
Repare, entretanto, que nestes eventos que envolveram Abraão
e Jó, a situação não permaneceu a mesma. Logo depois que Abraão orou, e
Abimeleque e outros casais tiveram filhos, o próprio Abraão e Sara também
tiveram o deles (compare Gn 20:17-18 com 21:1-3). De uma forma ainda mais
impressionante, note o que é dito sobre Jó: “E o Senhor virou o cativeiro de
Jó, quando orava pelos seus amigos” (Jó 42:10). Enquanto ele orava pelos seus
amigos, o Senhor mudou a sua situação.
Estes detalhes da vida de Abraão e Jó nos ensinam que alguma
coisa se torna diferente quando oramos pelo bem dos outros. Talvez não mude as
nossas circunstâncias, mas pode mudar a nossa atitude frente a elas. Ao orar
pelos meus amigos e vê-los seguindo de mãos dadas para a vida conjugal,
consegui ficar feliz por eles, sabendo que tinham sido impedidos de errar, e
isto me livrou de ficar amargurado. Ao orar por outros casais e vê-los abraçar
seus lindos filhos, ajudou a minha esposa e a mim a nos alegrar pela felicidade
deles, e isto nos impediu de nos sentirmos frustrados.
Alguns anos depois, me
casei, e o Senhor me concedeu alguém que jamais imaginei que poderia chamar de
esposa. Poucos anos depois tivemos filhos, e o Senhor nos concedeu dois (por
enquanto) como jamais achei que teria.
Nunca é fácil passar por uma situação em que devemos orar
para que Deus dê a outros o que nós mesmos não temos, mas aprendi que nunca
devemos deixar de orar. Alguma hora, para nossa surpresa ou surpresa dos outros,
alguma coisa se tornará diferente!
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