segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Falando bem do inimigo

Como você reagiria se recebesse a notícia de que a pessoa que mais lhe prejudicou na vida acabou de morrer?

Eu sei que responder a esta pergunta não é fácil, principalmente para quem sofreu durante anos nas mãos de pessoas tiranas. Mas enquanto você pensa na reação que teria, repare a atitude de Davi quando esteve nesta mesma situação.  

Durante anos Davi sofreu muito por causa das perseguições injustificáveis dos seus inimigos. Entre aqueles que mais lhe prejudicaram estavam o rei Saul, que foi o primeiro rei de Israel, e Abner, o comandante do exército de Saul. Por causa deles Davi precisou viver numa caverna, dormia em situações precárias, temia pela própria vida e precisou se separar de pessoas que amava. Foram alguns anos de sofrimento, medo e lágrimas.    

Mas chegou, enfim, o dia quando Saul morreu, e Davi recebeu a notícia. Sua reação, porém, não foi de alegria e exultação; foi de tristeza e choro. Ele escreveu um cântico e mandou que fosse registrado e guardado para ser cantado depois (II Sm 1:17-27). Analisando as palavras deste cântico, não vemos nenhuma menção das perseguições, das injustiças e nem mesmo dos muitos defeitos de Saul. Pelo contrário, tudo o que Davi falou sobre ele foi para exaltar a memória daquele que tanto lhe prejudicou.

Outro exemplo impressionante aconteceu na ocasião da morte de Abner. Quando Davi soube da sua morte, ele chorou, ficou sem comer e ainda afirmou: “Hoje caiu em Israel um príncipe e um grande” (II Sm 3:38). Ele ficou muito triste pela morte de alguém que respeitava, apesar de ter sido seu inimigo por tantos anos.

Confesso que não é fácil agir assim, mas este é o exemplo que devemos seguir. Entristecer-se pela morte de quem nos prejudicou é a melhor forma de se reproduzir as qualidades do Deus a quem servimos. Deus também não Se alegra quando morre alguém que não O amava (Ez 18:23; 33:11).

Além disso, precisamos tomar cuidado com as palavras que usamos para nos referir a quem nos prejudicou e já partiu. Albert McShane escreveu: “Esta ‘Lamentação’ contém lições que são difíceis de aprender ... Nenhum homem natural teria, nem poderia ter, escrito este hino fúnebre; somente alguém que aprendera na ‘escola de Deus’. Homens espirituais são um enigma para o mundo; na verdade, o mundo não os pode compreender. Além disto, aprendemos quanta coisa boa pode ser dita a respeito de um homem como Saul, sem mentir. O homem natural lembraria das coisas ruins que ele sabia acerca do falecido, mas aqui aprendemos que se formos falar qualquer coisa a respeito dos falecidos, deve ser sempre o melhor possível ... Alguns de nós sabemos de falhas na vida de grandes servos de Deus que agora estão com o Senhor, mas nunca devemos falar disto à geração que não os conheceu”.         

 Quando alguém nos prejudica em alguma coisa, é próprio da natureza de todos nós usar palavras pesadas para falar a respeito destas pessoas. Nos desculpamos dizendo que estamos apenas sendo sinceros sobre o que pensamos sobre os outros quando, na verdade, temos um desejo velado de solapar o caráter daqueles com quem não concordamos. Isto não é certo e não devemos incentivar ninguém a agir assim.

Mesmo aqueles que mais nos prejudicaram neste mundo tiveram alguma coisa de valor, e são estas coisas que valem a pena lembrar.

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