Como você reagiria
se recebesse a notícia de que a pessoa que mais lhe prejudicou na vida acabou
de morrer?
Eu sei que
responder a esta pergunta não é fácil, principalmente para quem sofreu durante
anos nas mãos de pessoas tiranas. Mas enquanto você pensa na reação que teria,
repare a atitude de Davi quando esteve nesta mesma situação.
Durante anos Davi
sofreu muito por causa das perseguições injustificáveis dos seus inimigos. Entre
aqueles que mais lhe prejudicaram estavam o rei Saul, que foi o primeiro rei de
Israel, e Abner, o comandante do exército de Saul. Por causa deles Davi precisou
viver numa caverna, dormia em situações precárias, temia pela própria vida e
precisou se separar de pessoas que amava. Foram alguns anos de sofrimento, medo
e lágrimas.
Mas chegou, enfim,
o dia quando Saul morreu, e Davi recebeu a notícia. Sua reação, porém, não foi
de alegria e exultação; foi de tristeza e choro. Ele escreveu um cântico e
mandou que fosse registrado e guardado para ser cantado depois (II Sm 1:17-27).
Analisando as palavras deste cântico, não vemos nenhuma menção das
perseguições, das injustiças e nem mesmo dos muitos defeitos de Saul. Pelo
contrário, tudo o que Davi falou sobre ele foi para exaltar a memória daquele
que tanto lhe prejudicou.
Outro exemplo impressionante
aconteceu na ocasião da morte de Abner. Quando Davi soube da sua morte, ele chorou,
ficou sem comer e ainda afirmou: “Hoje caiu em Israel um príncipe e um grande”
(II Sm 3:38). Ele ficou muito triste pela morte de alguém que respeitava, apesar
de ter sido seu inimigo por tantos anos.
Confesso que não é
fácil agir assim, mas este é o exemplo que devemos seguir. Entristecer-se pela
morte de quem nos prejudicou é a melhor forma de se reproduzir as qualidades do
Deus a quem servimos. Deus também não Se alegra quando morre alguém que não O
amava (Ez 18:23; 33:11).
Além disso,
precisamos tomar cuidado com as palavras que usamos para nos referir a quem nos
prejudicou e já partiu. Albert McShane escreveu: “Esta ‘Lamentação’ contém
lições que são difíceis de aprender ... Nenhum homem natural teria, nem poderia
ter, escrito este hino fúnebre; somente alguém que aprendera na ‘escola de Deus’.
Homens espirituais são um enigma para o mundo; na verdade, o mundo não os pode
compreender. Além disto, aprendemos quanta coisa boa pode ser dita a respeito
de um homem como Saul, sem mentir. O homem natural lembraria das coisas ruins
que ele sabia acerca do falecido, mas aqui aprendemos que se formos falar
qualquer coisa a respeito dos falecidos, deve ser sempre o melhor possível ...
Alguns de nós sabemos de falhas na vida de grandes servos de Deus que agora
estão com o Senhor, mas nunca devemos falar disto à geração que não os conheceu”.
Quando alguém nos prejudica em alguma coisa, é
próprio da natureza de todos nós usar palavras pesadas para falar a respeito destas
pessoas. Nos desculpamos dizendo que estamos apenas sendo sinceros sobre o que
pensamos sobre os outros quando, na verdade, temos um desejo velado de solapar
o caráter daqueles com quem não concordamos. Isto não é certo e não devemos
incentivar ninguém a agir assim.
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