quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

Prejuízos da incredulidade

Todos nós sabemos que aqueles que não crerem para salvação, sofrerão prejuízos eternos. Isto é solene e triste. Entretanto, há outro tipo de incredulidade nas Escrituras que nos surpreende: a incredulidade dos crentes. Eu sei que isto é ilógico e mais parece um paradoxo. Até porque, se alguém é crente, naturalmente ele crê. Mas alguns exemplos nos mostram que é possível ser um servo de Deus, crer em Seu Filho para a salvação e, mesmo assim, não crer nEle para outras áreas da vida. E os prejuízos desta incredulidade são muitos. Veja três exemplos na Palavra de Deus.


a. Moises e Arão – incredulidade diante do poder de Deus

O incidente narrado em Números 20:2-13 descreve a triste ocasião quando Moisés e Arão não creram no Senhor. A nação de Israel havia chegado ao deserto de Zim e, ali, “não havia água para a congregação” (v. 2). Como se tornou comum naqueles anos, o povo começou a murmurar contra Moisés e Arão, cobrando o cumprimento da promessa que os havia tirado do Egito.

Como resposta a esta cobrança, Moisés e Arão se colocaram diante de Deus, e o Senhor lhes respondeu. A ordem do Senhor foi muito clara: “Toma a tua vara, e ajunta a congregação, tu e Arão, teu irmão, e falai à rocha, perante os seus olhos, e dará a sua água” (v. 8). Eles, porém, fizeram diferente: “Então Moisés levantou a sua mão, e feriu à rocha duas vezes com a sua vara, e saiu muita água” (v. 11). Repare que o Senhor lhes mandou falar à rocha, mas eles a feriam.

Esta pequena mudança na atitude de Moisés e Arão (ferindo a rocha ao invés de falar), não foi por descuido ou distração. Não é que eles não entenderam que deveriam falar, ao invés de ferir. É porque eles realmente não creram. O Senhor disse logo depois: “Não crentes em Mim” (v. 12). Eles não creram que, apenas falando, o poder de Deus poderia fazer água brotar da rocha. O prejuízo que veio por causa desta incredulidade foi muito grande: “Não introduzireis esta congregação na terra que lhes tenho dado” (v. 12).

Um pouco de incredulidade, trouxe um prejuízo enorme!


b. O servo do rei – incredulidade diante da provisão de Deus

A situação descrita em II Reis 7 é, em todos os sentidos, calamitosa. A cidade de Samaria foi sitiada pelos sírios e uma grande fome acometeu a cidade (II Rs 6:24-25). Quando, porém, a situação chegou ao auge, deixando a população quase literalmente “morta de fome”, o profeta Eliseu anunciou que no dia seguinte haveria tanta fartura de alimentos, que se venderia “uma medida de farinha por um siclo, e duas medidas de cevada por um siclo, à porta de Samaria” (7:1).

Entretanto, um senhor que servia ao rei de Israel não creu que tão grande abundancia de alimentos poderia se encontrar disponível na cidade em menos de 24 horas. Ele afirmou: “Ainda que o Senhor fizesse janelas no Céu, poder-se-ia fazer isso?” (v. 2) Como resposta por esta incredulidade, Eliseu lhe avisou que ele veria, mas não comeria daquela provisão.
No outro dia, quando a profecia se cumpriu, o rei colocou aquele seu idoso servo à porta da cidade, para controlar o concurso. Mas o povo estava tão faminto que o atropelaram e ele morreu (v. 17).

Um pouco de incredulidade trouxe um prejuízo inigualável para aquele homem!      


c. Zacarias – incredulidade diante da promessa de Deus

O pai do profeta João Batista era sacerdote e um homem piedoso. Enquanto muitos em Israel já não cumpriam com dedicação os mandamentos do Senhor, Zacarias e sua esposa “eram ambos justos perante Deus, andando sem repreensão em todos os mandamentos e preceitos do Senhor” (Lc 1:6). Lucas capítulo 1 é a única parte das Escrituras que registra acontecimentos na vida deste servo de Deus. Neste capítulo, aprendemos que sua esposa era estéril e que ambos já eram avançados em idade (v. 7). Também aprendemos aqui que Zacarias orou. Embora não se saiba o conteúdo da sua oração, pelas palavras do anjo podemos deduzir que a oração de Zacarias envolvia filhos (v. 13).   

O anjo anunciou a Zacarias que ele e sua esposa teriam um filho, mas a resposta de Zacarias foi de incredulidade: “Como saberei isto? Pois eu já sou velho, e minha mulher avançada em idade” (v. 18). Podemos saber que estas palavras de Zacarias demonstravam incredulidade por causa daquilo que o anjo falou: “Eis que ficarás mudo, e não poderás falar até ao dia em que estas coisas aconteçam; porquanto não crestes nas minhas palavras, que a seu tempo se hão de cumprir” (v. 20).

Zacarias teve um grande prejuízo pela sua incredulidade. Ele precisou ficar muitos meses mudo. Mesmo que quisesse falar alguma coisa do que viu e ouviu através do anjo, ou se quisesse conversar com sua esposa sobre os detalhes da gestação, teria que fazer isto por meio de acenos e tabuinhas escritas (vs. 22, 62-63).

Estes três exemplos, o de Moisés e Arão, do servo do rei e o de Zacarias, nos ensinam que a incredulidade causa prejuízos para os próprios incrédulos. As promessas não deixaram de se cumprir, mas eles não puderam crescer na fé.

Repare que Moisés e Arão viram a água sair da rocha, mas por causa da sua incredulidade foram impedidos de entrar e desfrutar da terra prometida (Nm 20:12). Arão morreu no monte Hor, e Moisés, embora tenha visto a terra, não pode entrar nela, e morreu no monte Nebo (Dt 32:49-50). O servo do rei até viu a grande abundancia de provisão que o Senhor mandou, mas não teve tempo de provar ao menos um pouco do alimento que os outros tiveram (II Rs 7:16-20). Zacarias viu o que outros não puderam ver (Lc 1:24), mas durante aqueles meses não pode falar o que outros puderam.

Há muita coisa impressionante na Palavra de Deus. Mas a questão é: como está a nossa fé em relação a tudo o que as Escrituras dizem? Que o Senhor não precise dizer de nós: "Ó néscios, e tardos de coração para crer tudo o que os profetas disseram!" (Lc 24:25)

Portanto, “não sejas incrédulo, mas crente” (Jo 20:27).

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Os querubins

A palavra hebraica cherub ocorre 91 vezes no Velho Testamento, enquanto a palavra grega cheroubim ocorre apenas uma vez no Novo Testamento (Hb 9:5). Desde a primeira menção de querubins nas Escrituras, em Gênesis 3:24, até a sua descrição mais detalhada no livro de Ezequiel, aprendemos muitas e valiosas lições sobre estes seres que vivem tão próximos de Deus. É interessante notar que de todas as ocorrências de querubins nas Escrituras, sete vezes encontramos a afirmação de que “Deus habita entre os querubins”. Três vezes essa expressão é usada de forma figurativa, descrevendo os querubins que estavam sobre a arca da aliança (I Sm 4:4; II Sm 6:2; I Cr 13:6), e quatro vezes se refere a querubins reais, que estão no Céu, no meio dos quais “Deus habita” (II Rs 19:15; Sl 80:1; 99:1; Is 37:16). Além disso, duas vezes são registradas as palavras de Davi, quando afirmou que Deus “subiu sobre um querubim, e voou” (II Sm 22:11; Sl 18:10). Isto confirma a proximidade que os querubins têm da própria presença de Deus. O Senhor está no meio deles.

(...) Quanto à função que os querubins exercem, as Escrituras mostram que eles têm uma ligação direta com a santidade e justiça de Deus. Eles são agentes do trono dispostos a executar o juízo divino sobre os atos pecaminosos dos homens. A primeira menção de querubins está relacionada à expulsão de Adão e Eva do jardim. Querubins foram colocados ao oriente do jardim, bem como uma espada inflamada que girava ao redor (Gn 3:24). Simbolicamente, os querubins estavam também presentes no Tabernáculo, em três lugares diferentes. Sobre isto, William J. Watterson diz:

“Na cortina que formava a porta do átrio e na cortina que formava a porta da tenda, não havia querubins. Eles estavam somente nas cortinas que formavam a própria tenda, no véu que dividia esta tenda, e na arca. Como a tenda era coberta com peles de animais, não seria possível ver os querubins de fora da tenda. Era somente ao se aproximar da arca, que simbolizava a presença de Deus, que os querubins seriam visíveis”.

No jardim do Éden o acesso estava impedido, mantido assim pela presença dos querubins. No Tabernáculo o acesso à presença de Deus também estava impedido, simbolizado pela figura dos querubins no véu interior. A única pessoa que podia, uma vez ao ano, passar por aqueles querubins era o sumo sacerdote, que entrava com sangue em suas mãos (Hb 9:6-8). Isto é uma figura do Senhor Jesus, o Homem que entrou por nós: “Visto que temos um grande sumo sacerdote, Jesus, Filho de Deus, que penetrou nos céus, retenhamos firmemente a nossa confissão” (Hb 4:14). Ao penetrar nos céus o Senhor Jesus não levou um sangue alheio, mas o seu próprio sangue, que tem validade e garantias eternas (Hb 9:11-14). Nenhum querubim poderia impedir a entrada deste Homem. Pelo contrário, os querubins se alegraram por ver que, finalmente, um Homem digno em caráter e perfeito em redenção pagou o preço pelos pecados e comprou para Deus o direito de receber todos os que estiverem no Seu Filho.

Além do véu interior e da tenda, o outro lugar onde os querubins estavam presentes, simbolicamente, no Tabernáculo, era no propiciatório — que era a cobertura da arca da aliança. Em cada uma das extremidades do propiciatório, e formando uma só peça com ele, foram postos dois querubins de ouro (Êx 25:17-22; 37:6-9). As asas dos querubins tocavam umas nas outras, e o rosto de cada um olhava para baixo. Simbolicamente, estes querubins olhavam para a arca, como se estivessem averiguando o seu conteúdo, mas o propiciatório os impedia de enxergar aqueles objetos. Pensando no simbolismo destas coisas, podemos aprender verdades muito preciosas sobre a redenção que há em Cristo.

Os três objetos colocados dentro da arca eram: as tábuas da aliança, uma vasilha de ouro contendo o maná e a vara de Arão que floresceu (Hb 9:4). Cada um destes objetos, de uma forma positiva, nos ensina sobre as provisões espirituais que temos em Cristo. Mas de uma forma negativa estes objetos lembram os atos de pecados do povo, porque foram dados em ocasiões de rebeldia. As duas tábuas da Lei foram dadas num contexto em que o povo estava envolvido em idolatria (Êx 32). Moisés quebrou as primeiras tábuas da Lei e foi necessário lavrar outras duas (Êx 34:1), e estas últimas foram as que ele colocou dentro da Arca. O maná foi dado numa ocasião quando o povo, murmurando, desejou as panelas de carnes que tinham no Egito (Êx 16). A vara que floresceu foi dada depois da rebelião liderada por Coré, Datã e Abirão, que estavam insatisfeitos com a liderança sacerdotal estabelecida por Deus (Nm 16 e 17).

O simbolismo disso tudo é que enquanto os querubins olhavam para dentro da Arca, eles não podiam enxergar os pecados do povo e, consequentemente, não poderiam aplicar nenhum juízo ao povo de Deus. O propiciatório, que é uma figura de Cristo (Rm 3:25; I Jo 2:2; 4:10), ensinava aos querubins que aqueles pecadores que estão em Cristo estão seguros, “nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus” (Rm 8:1). Além disso, no dia da expiação, realizado uma vez ao ano, o sumo sacerdote aspergia sangue sobre o propiciatório, no meio dos querubins (Lv 16:14). Com isso, o Senhor estava mostrando aos querubins que o preço pela redenção daqueles que estão em Cristo já foi pago. William J. Watterson diz ainda:

“Contemplando, então, a arca, o propiciatório e os querubins, temos uma figura preciosa da nossa propiciação.

Olhando para o interior da arca, olhamos para dentro de nós mesmos, e vemos nossa carne: ingrata, insubordinada e idólatra! Olhando para os querubins, somos lembrados da santidade de Deus, e imediatamente percebemos o problema: como é que seres pecadores como nós podem se aproximar de um Deus santo, que habita entre os querubins?

A resposta está no propiciatório e no sangue da propiciação. O propiciatório cumpria duas funções; escondia os símbolos do pecado, e expunha o sangue da propiciação. Os querubins, por causa do propiciatório, não viam o conteúdo da arca — viam apenas o sangue.

Assim é uma igreja local. Se olharmos para dentro de nós mesmos, veremos os lembretes do pecado. Mas Deus nos vê no Amado, purificados pelo sangue do Senhor Jesus Cristo. Deus nos vê, hoje, como seremos na eternidade”.

Esta verdade sobre a nossa santificação posicional se torna ainda mais surpreendente quando lembramos que Satanás, o inimigo das nossas almas, era um “querubim, ungido para cobrir ... querubim cobridor” (Ez 28:14, 16). Ele tinha a função de sustentar o trono de Deus, vivia o mais próximo possível da presença de Deus e deveria, como os outros querubins, manter a santidade da habitação de Deus. Seu orgulho, porém, o levou à queda, e depois de perder a sua posição honrada, se tornou um feroz inimigo de Deus e de tudo o que se relaciona a Ele. Dia e noite este inimigo das nossas almas acusa os servos de Deus, mas quão surpreso ele deve ficar toda vez que o sangue de Cristo é apresentado como garantia da segurança eterna do Seu povo. Na mesma publicação citada acima, William J. Watterson continua:

“Imagine Satanás, ‘o acusador de nossos irmãos’ (Ap 12:10), chegando perante Deus, o Deus que habita entre os querubins, e acusando-nos pelos nossos muitos defeitos. Ele, que foi querubim antigamente, talvez lance em rosto daqueles que hoje são querubins da glória, as nossas falhas: ‘Vocês que são querubins, guardiões da santidade de Deus, não enxergam as falhas daquele povo?’ Quase podemos imaginar os querubins olhando para o Senhor, e declarando: ‘Senhor, nós não vemos nada daquilo com que ele acusa os Teus filhos. Nós somente vemos o sangue do Cordeiro, que para sempre os purificou de toda mancha!’”

A pessoa de Cristo e o sangue de Cristo são de um valor tão alto, que nem mesmo as criaturas mais próximas do trono de Deus, os querubins, podem ver algum resquício de pecado naqueles que estão seguros nEle. Esta é uma verdade tão sublime, que o ímpio não consegue entender e Satanás não pode aceitar. Mas nós cremos!


(Extraído do livro “Anjos”. Já disponível!)

sábado, 11 de novembro de 2017

Orações altruístas

Algumas orações nas Escrituras são verdadeiros desafios para todos nós. Orar é o dever de todo crente, mas nem sempre oramos com o “espírito” adequando. Pense, por exemplo, num irmão que precisa orar numa reunião “levantando mãos santas, sem ira nem contenda” (I Tm 2:8). Ele precisa controlar suas palavras e deixar sua raiva de lado para que possa orar por alguém que talvez o ofendeu. Outra situação difícil é quando oramos para que Deus dê para outra pessoa aquilo que nós mesmos não temos. Há alguns exemplos disto na Palavra de Deus, mas quero destacar pelos menos dois, aqui.

·         Abraão – pelo rei (Gn 20:7, 17)
Deus disse ao rei Abimeleque que Abraão era profeta e que oraria por ele. Logo depois Abraão orou e, “sarou Deus a Abimeleque, e à sua mulher, e às suas servas, de maneira que tiveram filhos”. Até àquela altura da sua vida, Abraão não tinha recebido o cumprimento da promessa de que ele e Sara teriam um filho. Entretanto, ele precisou orar para que Deus abençoasse e desse filhos a outros casais. Será que foi fácil para ele orar pela felicidade dos outros e ver sua oração ser atendida, enquanto ele mesmo não tinha filho? 

·          Jó – pelos seus amigos (Jó 42:8-10)
O Senhor falou com os amigos de Jó, dizendo: “Ide ao Meu servo Jó ... e o Meu servo Jó orará por vós; porque deveras a ele aceitarei”. Pense na situação de Jó. Ele precisou orar para que o Senhor fosse misericordioso com os seus três amigos e lhes favorecesse, enquanto ele mesmo estava numa situação tão deplorável. Será que foi fácil para ele orar pelo bem dos outros enquanto ele mesmo estava em completa miséria?

Certamente não foi fácil para estes dois homens passarem por estas circunstâncias. Enquanto oravam eles precisaram enfrentar a própria carne que, com inveja, desejava receber o que estavam pedindo para os outros. Eles tiveram de aprender a orar de forma altruísta, e deixar o egoísmo de lado enquanto pediam pelo bem dos seus amigos.

Todos nós já passamos por situações assim. É precioso ver que nossas orações pelos outros foram atendidas, e que o Senhor os beneficiou muito. Mas, sendo honestos, não foi fácil passar por isto. Como nos sentimos quando, orando, vemos que o Senhor deu a outros o que nós mesmos não temos ainda?

Entre tantos outros exemplos pessoais, lembro de duas situações que me ensinaram muito, enquanto precisei suportá-las. Quando eu era solteiro, a maioria dos meus amigos também era, e nós sempre conversávamos sobre a seriedade do casamento. Preocupado com eles, e eles comigo, orei muitas vezes para que o Senhor lhes desse um bom casamento, impedindo que errassem nesta decisão. O que aconteceu foi surpreendente. Cada um deles começou a casar e ... eu fiquei. Quando eu me casei, aos 28 anos, muitos deles já estavam casados e com filhos. Confesso que foi difícil passar por isso. Outra situação difícil pela qual passei foi depois de casado. Minha esposa e eu sempre desejamos ter uma grande família, e desde as primeiras semanas de casados já estávamos orando para que o Senhor nos desse filhos. Como sabíamos que outros casais também desejavam, começamos a orar por eles. E o que aconteceu? Outros casais começaram a ter filhos, e nós não. Novamente não foi fácil passar por isto, mas precisávamos aprender a lição.

Repare, entretanto, que nestes eventos que envolveram Abraão e Jó, a situação não permaneceu a mesma. Logo depois que Abraão orou, e Abimeleque e outros casais tiveram filhos, o próprio Abraão e Sara também tiveram o deles (compare Gn 20:17-18 com 21:1-3). De uma forma ainda mais impressionante, note o que é dito sobre Jó: “E o Senhor virou o cativeiro de Jó, quando orava pelos seus amigos” (Jó 42:10). Enquanto ele orava pelos seus amigos, o Senhor mudou a sua situação.

Estes detalhes da vida de Abraão e Jó nos ensinam que alguma coisa se torna diferente quando oramos pelo bem dos outros. Talvez não mude as nossas circunstâncias, mas pode mudar a nossa atitude frente a elas. Ao orar pelos meus amigos e vê-los seguindo de mãos dadas para a vida conjugal, consegui ficar feliz por eles, sabendo que tinham sido impedidos de errar, e isto me livrou de ficar amargurado. Ao orar por outros casais e vê-los abraçar seus lindos filhos, ajudou a minha esposa e a mim a nos alegrar pela felicidade deles, e isto nos impediu de nos sentirmos frustrados. 
Alguns anos depois, me casei, e o Senhor me concedeu alguém que jamais imaginei que poderia chamar de esposa. Poucos anos depois tivemos filhos, e o Senhor nos concedeu dois (por enquanto) como jamais achei que teria. 

Nunca é fácil passar por uma situação em que devemos orar para que Deus dê a outros o que nós mesmos não temos, mas aprendi que nunca devemos deixar de orar. Alguma hora, para nossa surpresa ou surpresa dos outros, alguma coisa se tornará diferente!

terça-feira, 24 de outubro de 2017

A origem de Satanás

A origem de Satanás remonta à Criação, quando todos os anjos foram criados. Olhando para Ezequiel 28 novamente, temos a confirmação de que Satanás é um ser criado: “No dia em que foste criado ... desde o dia em que foste criado” (Ez 28:13, 15). O diabo não tem os atributos da divindade, como os outros anjos também não têm. Ele não é eterno no sentido de sempre ter existido. No dia quando todos os anjos foram criados, ele foi criado também.

[...] A descrição impressionante que é dada a respeito dele não deixa dúvidas de que ele tinha uma grande patente na hierarquia angelical. Em Ezequiel 28:12 e 14 a presença do artigo sugere a singularidade da sua posição: “Tu eras o sinete da medida ... tu eras o querubim”.

[...] Havia uma perfeição e beleza em Satanás, como querubim, como provavelmente nunca se viu em nenhum outro ser criado. A sua perfeição é enfatizada em termos inconfundíveis. Ele era o “sinete [ou selo] da perfeição” (v. 12, ARA) e “perfeito eras nos teus caminhos” (v. 15). Não havia nenhuma feiura em sua aparência, nenhum defeito em seu corpo, nenhuma falha em seu caráter.

Além desta perfeição em seu ser, ele também trazia consigo uma beleza externa impressionante: “De toda a pedra preciosa era a tua cobertura: sardônia, topázio, diamante, turquesa, ônix, jaspe, safira, carbúnculo, esmeralda e ouro” (v. 13). Neste versículo o ouro é o único mineral que não se classifica como uma pedra, muito embora seja o mais valioso dos metais. Se a tradução da ARA estiver correta (“de ouro se te fizeram os engastes e os ornamentos”), então o ouro foi o material usado para fazer a guarnição que segurava as pedras preciosas no manto desse querubim. Neste versículo, a palavra “cobertura” indica um vestido ou manto. O tipo de roupa que este querubim usava era tão magnífica, que exemplares das mais lindas pedras preciosas eram engastadas em puro ouro e brilhavam presas em seu manto.

A expressão “no meio das pedras afogueadas” (vs. 14, 16) provavelmente indica o brilho intenso das pedras que haviam por onde este querubim passava. Enquanto ele andava, e pelo caminho pelo qual andava, a luz emitida das pedras refratava nele e se mesclava ao brilho das pedras preciosas que estavam em sua roupa, causando uma visão deslumbrante de beleza e glória.

[...] Com toda esta perfeição e beleza, era de se esperar que este “querubim cobridor” vivesse sempre para dar glórias a Deus e conduzir os outros seres celestiais ao mesmo louvor. Entretanto, não demorou muito para que ele olhasse para si mesmo com orgulho: “Até que se achou iniquidade em ti” (v. 15). O tipo de pecado e a motivação dele é dada no versículo 17: “Elevou-se o teu coração por causa da tua formosura, corrompeste a tua sabedoria por causa do teu resplendor”. O pecado deste querubim foi o orgulho, e a causa do orgulho foi a perfeição da sua beleza. Este querubim se tornou tão cheio de si que não reconheceu que toda aquela perfeição que ostentava era proveniente da soberania de Deus, que lhe havia ornado com tantos favores.

[...] Nesta queda sem precedentes de Satanás, temos uma lição muito solene para todo servo de Deus: o orgulho é indiscutivelmente perigoso! Pode ser que uma moça cristã seja bem mais bonita do que muitas outras moças que ela conheça. Pode ser que o rapaz cristão seja bem mais inteligente do que os outros rapazes do seu círculo de amizade. Pode ser que um irmão se destaque numa igreja local pelo seu muito conhecimento bíblico e facilidade para ensinar “pontos difíceis de entender” (II Pe 3:16). Pode ser que uma família de salvos seja bem mais rica do que todas as outras famílias. Tudo isto é muito agradável e têm suas vantagens. Mas, ao mesmo tempo, se estas coisas forem usadas como forma de autopromoção, isto pode ser o primeiro indício de uma queda desastrosa.

(Do livro “Anjos”, que será publicado em breve, se Deus permitir.)

terça-feira, 12 de setembro de 2017

Criando filhos para o mundo

As circunstâncias que envolveram o nascimento de Moisés, no Egito, foram cheias de temores e reviravoltas. Os meninos já nasciam condenados à morte (Êx 1:15-16), seus pais o esconderam o quanto puderam (Hb 11:23) e, quando ele foi colocado no rio e achado pela filha de Faraó, poderia ter morrido, mas a graça de Deus o preservou. Mais do isso, a própria filha do homem que mandou matar os meninos protegeu aquele menino (Ex 2:1-8). Contrariando todas as circunstâncias, a filha de Faraó disse à mãe da criança: “Leva este menino e cria-mo”. Isto foi impressionante! O menino não somente ficaria vivo, como a própria mãe iria cria-lo e ainda receberia um salário para isso.

No meio de todo este quadro impressionante, porém, havia um problema. A filha de Faraó mandou que o menino fosse criado para ela. Todo o investimento de tempo, alimentação orientação, etc., no final das contas não seria para a mãe do menino, mas para a filha de Faraó. O menino seria preparado, na verdade, para ser ingressado num mundo completamente diferente daquele que ele estaria acostumado em casa. Depois que fosse entregue à filha de Faraó, tudo seria diferente.

Além desta questão importante, convém notar que os pais do menino tinham grandes expectativas para ele. Eles haviam entendido que o filho deles poderia ser o futuro libertador da nação, por isso o tinham escondido três meses em casa. Mas quando o menino fosse entregue à filha de faraó, será que ele não esqueceria das expectativas espirituais que tinham nele? Será que não ficaria tão deslumbrado com a suntuosidade do palácio, a facilidade dos pecados cometidos ali e com a sedução das riquezas que esqueceria de todo o propósito espiritual e se entregaria com avidez ao mundo de luxúria e glória que lhe aguardava?

E o tempo também não ajudava em nada. Os pais do menino teriam pouco, bem pouco tempo para lhe ensinar alguma coisa de valor espiritual. Contrastando os muitos anos que Moisés moraria no palácio do Egito com os poucos anos que teria com seus verdadeiros pais, enquanto era criado por eles, quase podemos dizer que não adiantaria investir tempo criando valores espirituais na vida daquele menino. Dos 40 anos que ele ficou no Egito, é bem possível que tenha ficado na casa dos seus pais apenas o tempo da primeira infância, e o resto do tempo viveria no palácio.

Não é difícil perceber que praticamente as mesmas coisas acontecem hoje. Já ouvi algumas vezes as pessoas dizerem que “filhos não se cria para nós, se cria para o mundo”. Até certo ponto, preciso concordar com esta afirmação. Chegará a hora quando os filhos pequenos serão apresentados ao mundo, e eles passarão mais tempo envolvidos com tudo o que o mundo tem para oferecer do que em casa. Eles aprenderão sobre a suntuosidade que há no mundo, as suas glórias, luxúrias, vícios, etc. E isto acontecerá mais rápido do que se pensa. É bem possível que os pais tenham apenas a primeira infância disponível antes que os filhos comecem a conhecer os “novos mundos”.

            Os pais de Moisés, entretanto, deixaram um exemplo muito importante na criação daquele menino. Quando a criança nasceu, eles “não temeram o mandamento do rei” (Hb 11:23). E durante o pouco tempo que tiveram o menino em casa, eles não perderam tempo achando que o menino era novo demais para aprender alguma coisa. Pelo contrário, eles ensinaram valores espirituais ao seu filho. Estes valores o marcaram de tal forma, que quando o menino cresceu, “recusou ser chamado filho da filha de Faraó” (Hb 11:24). Os ensinos recebidos em casa foram tão significativos, que quando o menino, já adulto, teve oportunidade de se envolver em pecados, ele preferiu “ser maltratado com o povo de Deus” (Hb 11:25). O exemplo de seus pais foi tão marcante, que ele não se vislumbrou com os tesouros do Egito, “tendo por maiores riquezas o vitupério de Cristo” (Hb 11:26).


Concordo que criamos filhos para viverem no mundo, mas podemos ensiná-los a não amar este mundo. 

segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Falando bem do inimigo

Como você reagiria se recebesse a notícia de que a pessoa que mais lhe prejudicou na vida acabou de morrer?

Eu sei que responder a esta pergunta não é fácil, principalmente para quem sofreu durante anos nas mãos de pessoas tiranas. Mas enquanto você pensa na reação que teria, repare a atitude de Davi quando esteve nesta mesma situação.  

Durante anos Davi sofreu muito por causa das perseguições injustificáveis dos seus inimigos. Entre aqueles que mais lhe prejudicaram estavam o rei Saul, que foi o primeiro rei de Israel, e Abner, o comandante do exército de Saul. Por causa deles Davi precisou viver numa caverna, dormia em situações precárias, temia pela própria vida e precisou se separar de pessoas que amava. Foram alguns anos de sofrimento, medo e lágrimas.    

Mas chegou, enfim, o dia quando Saul morreu, e Davi recebeu a notícia. Sua reação, porém, não foi de alegria e exultação; foi de tristeza e choro. Ele escreveu um cântico e mandou que fosse registrado e guardado para ser cantado depois (II Sm 1:17-27). Analisando as palavras deste cântico, não vemos nenhuma menção das perseguições, das injustiças e nem mesmo dos muitos defeitos de Saul. Pelo contrário, tudo o que Davi falou sobre ele foi para exaltar a memória daquele que tanto lhe prejudicou.

Outro exemplo impressionante aconteceu na ocasião da morte de Abner. Quando Davi soube da sua morte, ele chorou, ficou sem comer e ainda afirmou: “Hoje caiu em Israel um príncipe e um grande” (II Sm 3:38). Ele ficou muito triste pela morte de alguém que respeitava, apesar de ter sido seu inimigo por tantos anos.

Confesso que não é fácil agir assim, mas este é o exemplo que devemos seguir. Entristecer-se pela morte de quem nos prejudicou é a melhor forma de se reproduzir as qualidades do Deus a quem servimos. Deus também não Se alegra quando morre alguém que não O amava (Ez 18:23; 33:11).

Além disso, precisamos tomar cuidado com as palavras que usamos para nos referir a quem nos prejudicou e já partiu. Albert McShane escreveu: “Esta ‘Lamentação’ contém lições que são difíceis de aprender ... Nenhum homem natural teria, nem poderia ter, escrito este hino fúnebre; somente alguém que aprendera na ‘escola de Deus’. Homens espirituais são um enigma para o mundo; na verdade, o mundo não os pode compreender. Além disto, aprendemos quanta coisa boa pode ser dita a respeito de um homem como Saul, sem mentir. O homem natural lembraria das coisas ruins que ele sabia acerca do falecido, mas aqui aprendemos que se formos falar qualquer coisa a respeito dos falecidos, deve ser sempre o melhor possível ... Alguns de nós sabemos de falhas na vida de grandes servos de Deus que agora estão com o Senhor, mas nunca devemos falar disto à geração que não os conheceu”.         

 Quando alguém nos prejudica em alguma coisa, é próprio da natureza de todos nós usar palavras pesadas para falar a respeito destas pessoas. Nos desculpamos dizendo que estamos apenas sendo sinceros sobre o que pensamos sobre os outros quando, na verdade, temos um desejo velado de solapar o caráter daqueles com quem não concordamos. Isto não é certo e não devemos incentivar ninguém a agir assim.

Mesmo aqueles que mais nos prejudicaram neste mundo tiveram alguma coisa de valor, e são estas coisas que valem a pena lembrar.

terça-feira, 18 de julho de 2017

Orações impedidas

Todos nós sabemos que há muita felicidade no casamento quando os casais são unidos e trabalham juntos para o bem mútuo. Onde não há desentendimentos os cônjuges enfrentam com mais resistência as vicissitudes da vida, atravessam com mais vigor as intemperes da semana, resolvem com mais inteligência as dificuldades do dia e desfazem com mais rapidez os embaraços de cada hora. Na vida destes casais os ventos chegam como um tufão, mas logo vão embora como pequenos sopros.   

Além da união que desfrutam entre si, os casais que servem a Deus têm um recurso ainda mais garantido – as orações. Eles sabem que podem contar com o Senhor e para o Senhor sobre tudo o que passam. Sabem que Deus “ao aflito livra da sua aflição, e na opressão Se revela aos seus ouvidos” (Jó 36:15). Problemas virão. Dificuldades baterão à porta. Aflições serão constantes. E quando vierem os filhos a preocupação será quase um membro da família. Mas eles podem, juntos, subir à presença de Deus em oração e apresentar a Ele tudo o que está no coração, sabendo que Ele tem prazer em ouvir, e tem poder para atender, segunda a Sua vontade.

Mas isto pode ser interrompido, infelizmente. Aquela preciosa união que os caracteriza pode ser abalada. A harmoniosa que impera no lar pode virar um caos. O consenso pode se transformar numa guerra de interesses próprios. E quando isto acontece, as orações são as primeiras que sofrem grande baixa. É isto que Pedro diz: “Para que não sejam impedidas as vossas orações” (I Pe 3:7). Esta frase não significa que as orações não serão atendidas; significa que as orações não serão feitas. Ou seja, por alguma razão os casais podem simplesmente parar de orar. É isto que quer dizer “impedidas as vossas orações”. Como diz a Versão Atualizada: “para que não se interrompam as vossas orações”.

Diante desta possibilidade alarmante de um casal parar de orar, precisamos imediatamente saber as razões que levariam a isso, e o contexto nos ajuda. No contexto deste versículo (I Pe 3:1-7), o assunto gira em torno do relacionamento entre marido e esposa no lar. Nos versículos 1-6 as responsabilidades recaem sobre a esposa, e no versículo 7 recaem sobre o marido. Olhando com mais atenção para o versículo 7, parece que é a forma como o marido trata a esposa que contribui para este fracasso nas orações do casal. É verdade que as emoções da esposa dão os tons do lar, mas é o tratamento do marido que lhe empresta as cores.

Quando o marido não se preocupa em ter entendimento sobre a esposa, quando não a honra, quando não a trata como trataria um vaso mais fraco, isto pode acarretar na esposa um desânimo na hora de orarem juntos, o que impedirá que exerçam este privilégio. Mas não devemos esquecer que os versículos anteriores falam da esposa. Se ela não obedece aos princípios apresentados nos versículos 1-6, dificilmente conseguirá “ganhar o seu marido”. Isto, claro, não deve ser visto como desculpa. O marido jamais deve ser rude porque a esposa não se sujeita, e a esposa jamais deve ser insubmissa porque o marido é insensível. Ambos devem se comportar de tal forma que, ao contrário de impedir, incentive o outro a orar também.

Portanto, sugiro ore. Ore até que ouça ao seu lado a voz do seu cônjuge dizendo “Amém”!

sábado, 8 de julho de 2017

A escolha do sumo sacerdote

Era um grande privilégio servir como sumo sacerdote em Israel. Este privilégio, porém, não era desfrutado por qualquer pessoa, escolhida avulsamente no meio do povo, nem por aquele que tivesse um grande desejo de se tornar um. Na verdade, “ninguém toma para si esta honra, senão o que é chamado por Deus, como Arão” (Hb 5:4). A escolha do sumo sacerdote não era deixada à mercê da sabedoria ou preferencia humanas. Era necessário ser escolhido diretamente por Deus.

Num certo sentido até entendemos isso. Um sumo sacerdote deveria representar o povo diante de Deus e representar a Deus diante do povo. Não era qualquer pessoa que poderia exercer esta dupla responsabilidade. Pensando, porém, na escolha do primeiro sumo sacerdote, Arão, nos surge uma pergunta um tanto intrigante: Por que Deus escolheu Arão para ser sumo sacerdote, e não Moisés? Do nosso ponto de vista Moisés era o homem ideal para ser o sumo sacerdote. Ele era profeta, influente, fora criado no suntuoso ambiente do palácio real e era um grande líder militar. Por que, então, não se tornar também o líder religioso? A resposta mais simples a esta pergunta é: Deus tem o direito soberano de escolher a quem Ele quiser para realizar a Sua obra. Se Ele quis escolher Arão, e não Moisés, temos que aceitar a Sua escolha.

Entretanto, creio que há mais uma razão além desta. Entre as funções do sumo sacerdote ele deveria servir “a favor dos homens nas coisas concernentes a Deus” e também “compadecer-se ternamente dos ignorantes e errados” (Hb 5:1-2). Isto quer dizer que o sumo sacerdote deveria entender o povo. Seria incoerente um sumo sacerdote que comparecesse diante de Deus para representar o povo sem qualquer sentimento de compaixão pelo povo, ou que nunca tivesse sentido na própria pele as dores do povo. É verdade que Moisés escolheu ser maltratado com o povo (Hb 11:25), mas a maior parte dos seus primeiros 40 anos foram vividos no conforto do palácio. Arão, em contrapartida, viveu entre o povo sofrendo as mesmas injustiças, sentindo as mesmas dores e nutrindo os mesmos desejos. Quando comparecesse diante de Deus “a favor dos homens”, ele faria isso com muito carinho, sabendo exatamente o que os homens sentiam.       

Desta mesma forma o Senhor Jesus, nosso sumo sacerdote, Se compadece de nós. Enquanto andou por este mundo Ele não viveu como um rico aristocrata. Pelo contrário, Ele “Se fez pobre” (II Co 8:9), nasceu em condições humildes (Lc 2:7), viveu numa cidade desprezada (Jo 1:45-46) e comia com os rejeitados (Mc 2:16). Além disto, experimentou as mesmas necessidades que nós. Ele sentiu fome (Mt 4:2), sede (Jo 19:28), cansaço (Jo 4:6) e sono (Mc 4:38). Nosso Senhor também sentiu as mesmas sensações que nós. Ele amou (Jo 13:1), teve compaixão (Mt 9:36), Se alegrou (Lc 10:21), sentiu tristeza (Mt 26:38) e chorou (Jo 11:35).

É real e maravilhoso saber que, agora, o Senhor Jesus comparece por nós diante de Deus (Hb 9:24) e intercede por nós (Rm 8:34; Hb 7:25). Ele conhece os sofrimentos pelos quais passamos aqui, e também já experimentou as coisas que nos entristecem. Ele sentiu as coisas que nós sentimos, e entende quando, prostrados e cansados, choramos. Ele experimentou todas estas coisas, com a única exceção do pecado, que Ele nunca cometeu (Hb 4:14-16).


Como é bom saber que o nosso sumo sacerdote, o Senhor Jesus, não nos trata com indiferença. Na verdade, Ele conhece tão de perto nossas dores e fraquezas que nos leva em seu próprio coração!  

terça-feira, 27 de junho de 2017

Vida que preserva vida

Quando uma pessoa extremamente espiritual vive entre nós, nem sempre temos noção da importância que ela exerce em nossa vida, família e até no nosso país. Admiramos seu modo de viver, sua comunhão com o Senhor e a sua dedicação na obra de Deus, mas pouco enxergamos, ou pouco entendemos, que talvez tenhamos sido livrados de muitos males por causa da presença e influência espiritual daquela pessoa. A verdade não é somente que somos influenciados pelo bom exemplo que uma pessoa espiritual nos dá; a verdade é que há ocasiões em que Deus nos poupa de prejuízos por causa daquela pessoa espiritual.

Há muitos exemplos disso espalhados pelas Escrituras, mas quero citar dois homens que tiveram papel fundamental de preservação na ocasião quando as cidades de Sodoma e Gomorra eram destruídas. Veja o que diz Gênesis 19:18-23, 29.

a) Ló preserva uma cidade (vs. 18-23)
Um pouco antes de começar a destruição das cidades de Sodoma e Gomorra, os anjos que se hospedaram na casa de Ló mandaram que ele e sua família saíssem da cidade. Ló, porém, temeu fugir para o monte que os anjos o mandaram ir, e pediu permissão para fugir à uma pequena cidade que ficava ali perto. Os anjos, então, o permitiram e prometeram que aquela cidade não seria destruída.

Este detalhe se torna mais impressionante quando lembramos que não foram somente as cidades de Sodoma e Gomorra que foram destruídas. Estas eram as principais, mas outras cidades também foram destruídas com elas (repare as “cidades vizinhas” em Jr 49:18; 50:40; Jd v. 7). As pequenas cidades ao redor de Sodoma e Gomorra também sofreram com o inevitável juízo que aconteceu, mas a pequena cidade para onde Ló foi autorizado a se esconder foi preservada. Por quê? Porque Ló estava lá!

b) Abraão preserva Ló (v. 29)
Um dia antes da destruição de Sodoma, Gomorra e outras cidades vizinhas, Abraão foi avisado por Deus que este juízo aconteceria. Ele, então, pensando em seu sobrinho que habitava em Sodoma, começou a orar a Deus, pedindo pela preservação da cidade caso houvesse um número considerável de justos nela (Gn 18:23-33). No dia seguinte, quando a destruição começou, e Ló já estava na pequena cidade para onde foi se abrigar, “lembrou-se Deus de Abraão, e tirou a Ló do meio da destruição”. É impressionante este fato. Deus tirou Ló do meio da destruição por causa de Abraão!

Uma cidade foi preservada por causa da presença de Ló, e Ló foi preservado por causa das orações de Abraão. Pensando nestes exemplos, será exagero dizer que a vida e as orações de homens espirituais podem preservam muita gente?

Talvez uma família esteja à beira da decadência moral e desestabilidade emocional, mas pela presença e orações de alguém espiritual, Deus pode mudar a situação e preservar a família. Talvez falte pouco para uma igreja fechar as portas do salão e deixar de existir, mas pela presença e orações de um membro espiritual, o Senhor pode salvar outras pessoas e manter fiel o testemunho daquela igreja. Talvez uma grande calamidade pública esteja a caminho de uma cidade, mas pela presença e orações de um cidadão espiritual, o Senhor pode desviar os males que teriam destruído a cidade.

É grande a importância de uma vida espiritual em nossa vida. É grande a importância da nossa vida espiritual em outras vidas. 

quinta-feira, 22 de junho de 2017

Investimento eterno

No mundo dos negócios, os mais bem sucedidos são aqueles homens que conseguem enxergar uma boa oportunidade, investir nela e manter a ideia em curso, mesmo que nenhuma outra pessoa tenha visto o mesmo que ele viu. A curto, médio ou longo prazo, todos os que um dia o chamaram de louco pelo investimento o louvarão pelos lucros obtidos. Falando de forma simplória, um empreendedor é aquele que enxerga uma grande oportunidade de negócios, enquanto que o empresário é aquele que acredita na ideia e investe nela, confiando que dará certo.

O Senhor Jesus falou a respeito disso uma vez, quando narrou e explicou a parábola do mordomo infiel (veja Lc 16:1-12). Na parábola, o homem foi descoberto roubando do seu senhor, e quando foi mandado embora, prudentemente promoveu meios pelos quais poderia ser bem recebido por outros e ficar confortável no futuro. O seu senhor, então, o louvou pela sua prudência, e o Senhor Jesus afirmou: “Porque os filhos deste mundo são mais prudentes na sua geração do que os filhos da luz”. Isto não quer dizer que o senhor daquele mordomo ladrão concordava com suas atitudes, e nem que o Senhor Jesus estava aprovando a sua infidelidade. O que o patrão dele louvou foi a prudência como o mordomo tratou a situação, investindo em seu futuro, e o Senhor Jesus usou isso para mostrar o quão importante é que os Seus servos comecem a pensar no quanto estão investindo no seu futuro eterno.

Um bom empreendedor está sempre espreitando as circunstâncias para achar um novo negócio lucrativo, e um empresário está sempre disposto a investir grandes somas de dinheiro num negócio que lhe renderá outras grandes somas de dinheiro. O único problema disso, porém, é que o “futuro” dos grandes investidores deste mundo é um futuro muito mesquinho. Durará algumas poucas décadas neste mundo. Mas o futuro do cristão não é um tempo tão curto. Explicando a parábola, o Senhor Jesus falou sobre ser recebido “nos tabernáculos eternos”. Em outras palavras: se os empreendedores e empresários deste mundo investem tanta coisa para desfrutar num futuro de tão pouco tempo, quanto mais os cristãos deveriam investir em ações espirituais, sabendo que desfrutarão do seu resultado num futuro que jamais acabará!

Como, então, você e eu podemos investir prudentemente no nosso futuro eterno? Norman Crawford escreveu: “O contexto nos ajuda: o mordomo infiel usou suas oportunidades para preparar para o futuro. Aplicando isto, o uso que fazemos de recursos para ministrar aos necessitados, alimentar os famintos, vestir os pobres, cuidar dos doentes, promover o trabalho do Senhor é ‘granjear amigos’ com as riquezas que, se usadas meramente para satisfazer-nos a nós mesmos, falhariam e nos deixariam com nada. O uso correto das riquezas dá a elas um valor eterno através das pessoas que foram abençoadas pelo seu uso”.

Devemos sempre lembrar que Deus recompensará todo serviço feito em nome dEle enquanto servimos aos servos dEle (Hb 6:10). Os galardões oferecidos no tribunal de Cristo (I Co 3:14) e posições de honra no Seu reino (II Tm 4:8) serão dados àqueles que, enquanto aqui, mais investiram no seu futuro, aplicando seus recursos, tempo e energia em Sua obra. Um cristão prudente jamais enxerga uma oportunidade de ajudar alguém como um peso, e jamais investe umas poucas moedas apenas para aliviar sua consciência. Na verdade, como um verdadeiro empreendedor espiritual, ele vê as necessidades dos outros como uma excelente oportunidade de investir em seu futuro diante do Senhor Jesus.

Seja mais sábio que os sábios deste mundo. Invista em coisas que realmente valham a pena!

quinta-feira, 8 de junho de 2017

O caminho de Deus

É sempre difícil enfrentar dificuldades. Nossa pouca sabedoria para lidar com situações que estão acima da nossa capacidade de resolver nos deixa preocupados e ansiosos. Mas a maior preocupação nestas horas, porém, é quando não conseguimos discernir para qual direção o Senhor está nos apontando. Temos medo de ir por um caminho e errar, ou ficar parados e não chegar onde deveríamos ter ido. Nestes momentos, gostaríamos de ter uma orientação clara da parte do Senhor, tão clara que não nos deixasse dúvidas sobre a Sua vontade. Mas nem sempre o que queremos é exatamente a vontade de Deus. Na verdade, Ele mesmo disse que “os Meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos os Meus caminhos” (Is 55:8).

Portanto, a direção que Deus nos dará nas dificuldades nem sempre será a que mais gostaríamos ou a mais agradável. Mas podemos sempre estar certos de que o caminho de Deus é, e sempre será, o melhor caminho a percorrer. A Bíblia nos ensina que Deus age com amor, paciência e de maneiras que, para a sabedoria humana, são sem sentido. Alguns exemplos tirados da Bíblia nos ensinam que Ele ouve a oração do crente quando feita em sinceridade. Às vezes Ele fica em silêncio, assim como ficou com Jacó, não declarando o que ele tinha que fazer antes de se encontrasse com seu irmão Esaú (Gn 33-1). Ele sempre manda os Seus servos, assim como mandou o profeta Elias, para abençoar a uma viúva (I Rs 17:8-24). No caminho de Deus, todo o salvo pode sempre contar com o Seu cuidado, ajuda, proteção e ser guiado. “O Senhor ia adiante deles, de dia numa coluna de nuvem para os guiar e de noite numa coluna de fogo para os iluminar” (Êx 13-21).

Muitas vezes nós achamos que sabemos como as coisas devem acontecer na nossa vida. Tentamos muitas vezes escolher nosso futuro, qual tipo de profissão, para onde queremos ir, ou morar, etc. Algumas vezes procuramos o caminho mais curto, o mais fácil para alcançarmos nossos objetivos, apenas porque queremos que tudo aconteça como planejamos, mais nem sempre é assim. O caminho de Deus é diferente dos nossos. Como salvos, vivemos pela fé e pela obediência: “O justo viverá pela fé” (Hb 10.38)      

Temos alguns exemplos de que Deus sempre está no controle de tudo. Quando o povo teve sede, Deus tirou água de uma rocha (Nm 20-8). Quando Elias teve fome, Deus usou corvos para levar pão e carne ao profeta (I Rs 17-6; Mt 17-27). Quando Pedro precisou pagar os impostos, o Senhor Jesus mandou que ele lançasse o anzol e tirasse da boca do primeiro peixe que encontrasse o dinheiro que precisava para os impostos. Observamos várias maneiras que mostram que Deus sempre está no controle daqueles que confiam nEle. É e isso que nós devemos fazer. Devemos ser fiéis, confiar, acreditar e entregar nosso caminho a Deus: “Não confie em seu próprio entendimento” (Pv 3-5). Ou seja, Ele sempre vai usar métodos totalmente diferentes dos nossos; métodos que, para nós, é sem lógica. Mas devemos sempre enxergar com os olhos da fé.


Lembremos: “Nem com os olhos se viu um Deus além de Ti que trabalha para aquele que nEle espera” (Is 64:4).

R. F. O.

segunda-feira, 22 de maio de 2017

O melhor cônjuge do mundo

“Que é o teu amado mais do que outro amado?”

Um tempo atrás, eu estava estudando as Escrituras e fiquei demoradamente meditando nas palavras de Cantares 5:8-6:1. A cena toda é simples, mas o ensino é profundo, atual e necessário. As “filhas de Jerusalém” perguntaram à esposa o que é que o esposo dela tinha de tão especial que fazia dele “mais amado do que outro amado”. Ela, então, começou a dar uma descrição detalhada das características positivas dele. Como resultado, as outras mulheres ficaram impressionadas e também desejaram busca-lo e desfrutar da companhia dele.

A lição simples, profunda e necessária deste texto é a seguinte: o que você diz a respeito do seu cônjuge para outras pessoas, será exatamente o que as outras pessoas dirão a respeito do seu cônjuge. Se você tem o costume de reclamar do seu esposo ou esposa para seus pais, amigos ou vizinhos, certamente eles não terão uma boa impressão a respeito da pessoa com quem você casou. O contrário também é verdade. Se você costuma dizer coisas positivas a respeito do seu cônjuge para seus pais, amigos e vizinhos, é bem possível que eles considerarão você uma pessoa privilegiada por ter se casado exatamente com quem se casou. Fazer isto não tornará o seu cônjuge perfeito, mas poderá diminuir muitos dos problemas que são causados no casamento por causa de comentários de outras pessoas, e que você mesmo incentivou.

Aconteceu algo curioso comigo uma vez. Eu estava visitando uma igreja com a minha família e, quando levantei para falar publicamente, os apresentei e disse que eu tinha me casado com a mulher mais linda do mundo. No intervalo, quando fomos todos almoçar, um irmão viúvo, idoso e muito experiente sentou-se à mesa conosco e disse: “Você cometeu um erro numa das coisas que falou”. Fiquei apreensivo! O que eu teria dito de errado a ponto de merecer um “puxão de orelha” daquele irmão que eu respeito? Ele, então, explicou: “Você não casou com a mulher mais linda do mundo. A minha esposa era a mulher mais linda do mundo!” Todos nós começamos a rir, e naquele dia aprendi mais uma lição com aquele irmão. Enquanto eu considero a minha esposa a mais linda do mundo, ele considerava a dele a mulher mais linda do mundo.

Talvez este episódio ajude a ilustrar o que eu estou tentando dizer. Se você começar a olhar o seu cônjuge como a pessoa mais linda e adequada do mundo, certamente nenhuma outra pessoa será considerada capaz de tomar o lugar do cônjuge que você ganhou de Deus. E se você se esforçar para falar aos outros o melhor que há no seu cônjuge, certamente ouvirá outras pessoas falando o melhor do cônjuge deles para você também. Ensinar pelo aspecto positivo tem bem mais valor do que pelo aspecto negativo.

Ah, e só para esclarecer: eu não concordo com aquele irmão que respeito. Na minha opinião, a minha esposa continua sendo a mais linda do mundo!