Todos nós sabemos que aqueles que não crerem para salvação,
sofrerão prejuízos eternos. Isto é solene e triste. Entretanto, há outro tipo
de incredulidade nas Escrituras que nos surpreende: a incredulidade dos
crentes. Eu sei que isto é ilógico e mais parece um paradoxo. Até porque, se
alguém é crente, naturalmente ele crê. Mas alguns exemplos nos mostram que é
possível ser um servo de Deus, crer em Seu Filho para a salvação e, mesmo
assim, não crer nEle para outras áreas da vida. E os prejuízos desta incredulidade
são muitos. Veja três exemplos na Palavra de Deus.
a. Moises e Arão – incredulidade
diante do poder de Deus
O incidente narrado em Números 20:2-13 descreve a triste
ocasião quando Moisés e Arão não creram no Senhor. A nação de Israel havia
chegado ao deserto de Zim e, ali, “não havia água para a congregação” (v. 2).
Como se tornou comum naqueles anos, o povo começou a murmurar contra Moisés e
Arão, cobrando o cumprimento da promessa que os havia tirado do Egito.
Como resposta a esta cobrança, Moisés e Arão se colocaram
diante de Deus, e o Senhor lhes respondeu. A ordem do Senhor foi muito clara:
“Toma a tua vara, e ajunta a congregação, tu e Arão, teu irmão, e falai à rocha, perante os seus olhos,
e dará a sua água” (v. 8). Eles, porém, fizeram diferente: “Então Moisés
levantou a sua mão, e feriu à rocha
duas vezes com a sua vara, e saiu muita água” (v. 11). Repare que o Senhor lhes
mandou falar à rocha, mas eles a feriam.
Esta pequena mudança na atitude de Moisés e Arão (ferindo a
rocha ao invés de falar), não foi por descuido ou distração. Não é que eles não
entenderam que deveriam falar, ao invés de ferir. É porque eles realmente não
creram. O Senhor disse logo depois: “Não crentes em Mim” (v. 12). Eles não
creram que, apenas falando, o poder de Deus poderia fazer água brotar da rocha.
O prejuízo que veio por causa desta incredulidade foi muito grande: “Não
introduzireis esta congregação na terra que lhes tenho dado” (v. 12).
Um pouco de incredulidade, trouxe um prejuízo enorme!
b. O servo do rei – incredulidade
diante da provisão de Deus
A situação descrita em II Reis 7 é, em todos os sentidos,
calamitosa. A cidade de Samaria foi sitiada pelos sírios e uma grande fome
acometeu a cidade (II Rs 6:24-25). Quando, porém, a situação chegou ao auge,
deixando a população quase literalmente “morta de fome”, o profeta Eliseu
anunciou que no dia seguinte haveria tanta fartura de alimentos, que se
venderia “uma medida de farinha por um siclo, e duas medidas de cevada por um
siclo, à porta de Samaria” (7:1).
Entretanto, um senhor que servia ao rei de Israel não creu
que tão grande abundancia de alimentos poderia se encontrar disponível na
cidade em menos de 24 horas. Ele afirmou: “Ainda que o Senhor fizesse janelas
no Céu, poder-se-ia fazer isso?” (v. 2) Como resposta por esta incredulidade,
Eliseu lhe avisou que ele veria, mas não comeria daquela provisão.
No outro dia, quando a profecia se cumpriu, o rei colocou
aquele seu idoso servo à porta da cidade, para controlar o concurso. Mas o povo
estava tão faminto que o atropelaram e ele morreu (v. 17).
Um pouco de incredulidade trouxe um prejuízo inigualável
para aquele homem!
c. Zacarias – incredulidade diante da
promessa de Deus
O pai do profeta João Batista era sacerdote e um homem
piedoso. Enquanto muitos em Israel já não cumpriam com dedicação os mandamentos
do Senhor, Zacarias e sua esposa “eram ambos justos perante Deus, andando sem
repreensão em todos os mandamentos e preceitos do Senhor” (Lc 1:6). Lucas
capítulo 1 é a única parte das Escrituras que registra acontecimentos na vida
deste servo de Deus. Neste capítulo, aprendemos que sua esposa era estéril e
que ambos já eram avançados em idade (v. 7). Também aprendemos aqui que
Zacarias orou. Embora não se saiba o conteúdo da sua oração, pelas palavras do
anjo podemos deduzir que a oração de Zacarias envolvia filhos (v. 13).
O anjo anunciou a Zacarias que ele e sua esposa teriam um
filho, mas a resposta de Zacarias foi de incredulidade: “Como saberei isto?
Pois eu já sou velho, e minha mulher avançada em idade” (v. 18). Podemos saber
que estas palavras de Zacarias demonstravam incredulidade por causa daquilo que
o anjo falou: “Eis que ficarás mudo, e não poderás falar até ao dia em que
estas coisas aconteçam; porquanto não
crestes nas minhas palavras, que a seu tempo se hão de cumprir” (v. 20).
Zacarias teve um grande prejuízo pela sua incredulidade. Ele
precisou ficar muitos meses mudo. Mesmo que quisesse falar alguma coisa do que
viu e ouviu através do anjo, ou se quisesse conversar com sua esposa sobre os
detalhes da gestação, teria que fazer isto por meio de acenos e tabuinhas
escritas (vs. 22, 62-63).
Estes três exemplos, o de Moisés e Arão, do servo do rei e o
de Zacarias, nos ensinam que a incredulidade causa prejuízos para os próprios
incrédulos. As promessas não deixaram de se cumprir, mas eles não puderam
crescer na fé.
Repare que Moisés e Arão viram a água sair da rocha, mas por
causa da sua incredulidade foram impedidos de entrar e desfrutar da terra
prometida (Nm 20:12). Arão morreu no monte Hor, e Moisés, embora tenha visto a
terra, não pode entrar nela, e morreu no monte Nebo (Dt 32:49-50). O servo do
rei até viu a grande abundancia de provisão que o Senhor mandou, mas não teve
tempo de provar ao menos um pouco do alimento que os outros tiveram (II Rs
7:16-20). Zacarias viu o que outros não puderam ver (Lc 1:24), mas durante
aqueles meses não pode falar o que outros puderam.
Há muita coisa impressionante na Palavra de Deus. Mas a
questão é: como está a nossa fé em relação a tudo o que as Escrituras dizem?
Que o Senhor não precise dizer de nós: "Ó néscios, e tardos de coração
para crer tudo o que os profetas disseram!" (Lc 24:25)
Portanto, “não sejas incrédulo, mas crente” (Jo 20:27).