“Errar é humano”, diz a sabedoria popular, e eu concordo com
esta máxima. Até porque, Deus não erra e, portanto, errar não pode ser divino.
Apesar de saber disso, porém, quase sempre você e eu pensamos ou nos
comportamos como se Deus tivesse cometido algum erro. Em nossa lógica, achamos
que Ele deveria agir de um jeito conosco ou com nossas circunstâncias, e quando
Ele age diferente, parece que alguma coisa saiu do controle. Mas não é assim. Veja
alguns exemplos:
a. José – casto, mas
injustiçado
Sem dúvida, José é uma das personalidades mais impressionantes
da Bíblia. Quando era ainda bem jovem, com apenas 17 anos, procedia de forma diferente
do comportamento indevido dos seus irmãos (Gn 37:2). Mais do que isso, durante
os muitos dias em que a esposa do seu senhor tentou seduzi-lo para que se
envolvessem em imoralidade, ele recusou, mantendo-se puro diante das
oportunidades de pecar (Gn 39:7-12).
Apesar disso, porém...
... ele foi muito injustiçado. Primeiro, foi vendido pelos
seus irmãos, sem nada ter feito a eles, de modo que pudesse justificar o ódio que
sentiam (Gn 37:26-28). Segundo, foi preso, porque a mulher do seu senhor mentiu
a respeito dele (Gn 39:13-20). Terceiro, foi esquecido na prisão, porque o
homem a quem ele ajudou não se lembrou dele e do benefício que recebeu (Gn
40:23).
Não é fácil manter a castidade em ambientes onde a
imoralidade é cometida e incentivada. Não é fácil ser difamado quando o
comportamento diz o contrário. Não é fácil ser esquecido por aqueles que mais
foram beneficiados. Mas Deus não erra!
b. Jó – correto, mas incompreendido
A descrição que a Bíblia, e Deus mesmo, dá a respeito de Jó dispensa
maiores condecorações. Ele era um homem que se destacava não só por ser o mais
importante e rico do oriente, mas por ser um servo de Deus que procurava manter
sua vida, e a de sua família, em total acordo com os padrões divinos. Não é sem
razão que seu livro comece descrevendo seu caráter e testemunho (Jó 1:1-8).
Apesar disso, porém...
... ele foi provado ao extremo, de um
modo que poucos de nós suportaria (Jó 1-2). E quando seus melhores amigos
vieram para consolá-lo, mais prejudicaram do que ajudaram. Em sua argumentação,
os amigos de Jó tentavam apresentar razões pelo estado deplorável que ele
ficou, e suas razões seguiam sempre para a mesma direção: algum pecado não
confessado que Jó talvez cometera (Jó 2:13 em diante). Seus amigos não o
compreendiam, e ele foi severamente atacado por eles.
Não é fácil manter o alto nível espiritual quando as coisas
começam a dar errado. Não é fácil entender por que o mal acomete os justos. Não
é fácil suportar a incompreensão dos mais chegados quando a integridade é
atacada. Mas Deus não erra!
c. Jeremias – chamado,
mas impedido
Jeremias era ainda muito novo quando Deus o chamou e lhe deu
a responsabilidade de ser Seu mensageiro diante do povo (Jr 1). Ele foi avisado
que encontraria a resistência do povo e enfrentaria oposição. Mesmo assim,
manteve-se fiel. Sempre que Deus lhe enviava uma mensagem, ele procurava
transmiti-la exatamente como o Senhor queria que fizesse. E para realizar seu
serviço, ele foi espancado e preso (Jr 20:2), perseguido (Jr 38:1-6) e chorou
abundantemente (Lm 3:48-49).
Apesar disso, porém...
... o Senhor disse a ele que não deveria se casar e ter
filhos (Jr 16:1-2). Seu serviço seria feito com toda a dificuldade, e houve até
ocasiões quando ele se assentou solitário (Jr 15:17). Ele não podia voltar para
casa depois de mais um dia de serviço e encontrar sua esposa o esperando e seus
filhos o chamando para brincar. Ele foi impedido de desfrutar desses
privilégios. Mas Deus não erra!
Não é fácil tentar convencer, e converter do erro, pessoas
que não admitem estar erradas. Não é fácil trabalhar contando com a resistência
de quem ouve. Não é fácil chegar ao fim do dia e não ter alguém com quem possa
dividir o fardo. Mas Deus não erra!
Eu não posso explicar o motivo de tantos servos de Deus sofrerem
injustiças. Não posso explicar o fato de os homens mais fiéis serem
incompreendidos e, em alguns casos, os que partem mais cedo para a eternidade. Não
posso explicar por que o Senhor impede que os mais dedicados sejam privados de
coisas que, no meu entendimento, seriam tão úteis a eles. Mas sei que o Senhor
não erra.
José, anos depois, foi exaltado a uma posição de honra no
Egito (Gn 41:40), e afirmou aos seus irmãos que tudo o que aconteceu com ele
foi permitido por Deus para preservá-los com vida (Gn 50:20). Jó, depois de
toda a provação que enfrentou, e as perdas que teve, recebeu do Senhor o dobro
do que tinha (Jó 42:10) e, principalmente, conheceu o Senhor mais intimamente
(Jó 42:5). Jeremias, quando foi impedido de casar e ter filhos, estava, na
verdade, sendo preservado das dores que viriam sobre as famílias daquela época
(Jr 16:3-4), e além dessa preservação, os fiéis da nação, como o próprio
Jeremias, receberiam o seu galardão (Jr 31:16).
Eu sei, convictamente eu sei que Deus jamais erra! Você e eu
podemos não entender agora a razão por trás de tudo o que Ele faz, mas jamais
devemos nos permitir duvidar da Sua sabedoria. Podemos não enxergar que “há
esperança quanto ao teu futuro” (Jr 31:17), mas um dia, quando tudo estiver
claro para nós, entenderemos que o caminho espinhoso foi necessário. Talvez não
saibamos explicar os Seus meios, mas um dia O louvaremos até mesmo pelas dores
que nos foram permitidas, porque nos levaram a um glorioso fim!