Durante toda a vida, todo ser humano se relaciona com outros
seres humanos em diferentes áreas e para diferentes propósitos. Há aqueles
relacionamentos esporádicos e passageiros, como médicos e pacientes. Outros relacionamentos
são sociais e cativantes, como professores e alunos. Há também aqueles afetivos
e duradouros, como pais com seus filhos e filhos com seus outros irmãos.
Mas há, nos relacionamentos humanos, um que é mais do que o
esporádico e passageiro; vai além do social e cativante; e não se limita a ser
afetivo e duradouro. Este relacionamento é o mais forte entre todos os
relacionamentos que alguém se envolverá na vida.
Refiro-me ao relacionamento entre marido e mulher.
Sei que alguns leitores destas linhas podem (e é justo)
protestar. Talvez você esteja pensando naquele seu amigo que não desgruda de
você e que te ama incondicionalmente. Pode ser que outro pense naqueles irmãos
e irmãs que, sendo gêmeo ou não, são tão ligados e unidos que até confundem os
outros. Ou pode ser (e aqui o protesto se torna mais acalorado), você esteja
considerando o relacionamento entre pais e filhos, que além de ser forte,
duradouro e extremamente afetivo, conta com o fato de que para cada pai, o
filho é o melhor do mundo e para cada filho, os pais são únicos.
No entanto, quero insistir e argumentar neste artigo que,
entre todos os relacionamentos humanos, nenhum supera o de marido e mulher. Há
algumas razões porque afirmo isso, mas quero apresentar aqui pelo menos quatro
dessas razões.
a. Pode ser o mais duradouro
Este é o argumento mais fraco, mas nem por isso deixa de ser
válido. Pense no tempo que cada pessoa
passa com os pais e depois contraste com o tempo que passa com o cônjuge. Em
média, uma pessoa fica na casa dos pais em torno de vinte, vinte e poucos anos.
Mas o casamento não tem esta durabilidade. Quando duas pessoas se casam eles
estão cientes e dispostos a passarem o resto da vida juntos. Por “resto”, todo
mundo entende que é o tempo que ambos viverem. Se os dois permanecerem vivos
por 50 anos depois de se casarem, por exemplo, o relacionamento deles terá
durado pelo menos o dobro do tempo que cada um ficou na casa dos pais. Isto
quer dizer que, normalmente (se a morte não vir antes), cada pessoa que se casa
passa mais tempo de vida na condição de cônjuge do que na condição de
filho.
Isaque, por exemplo, se casou quando estava com 40 anos (Gn
25:20) e morreu com 180 (Gn 35:28-29). Ele viveu 140 anos depois que deixou a
casa de seu pai. Não podemos afirmar que ele viveu casado todo esse tempo,
porque não sabemos quando Rebeca, sua mulher, morreu (podemos saber onde ela
foi sepultada, mas não quando – Gn 49:31). Mesmo assim, podemos afirmar que
eles viveram juntos muitos anos. Levando em consideração que Isaque e Rebeca já
estavam casados há pelo menos 20 anos quando os filhos nasceram (compare a
idade de Isaque em Gn 25:20, 26) e que Esaú já estava com 40 anos quando se
casou (Gn 26:34), podemos afirmar que no mínimo (jogando por baixo), eles
ficaram casados 60 anos (provavelmente foi muito mais que isso).
Os anos de casados foram muito mais do que os anos na casa
dos pais.
b. É o único que não pode ser deixado
Embora os outros relacionamentos sejam sérios e fortes, eles
podem ser desfeitos com o tempo. Pense, por exemplo, no relacionamento
extremamente forte entre pais e filhos. Mesmo que ambos se amem
verdadeiramente, chegará um dia quando terão de separar-se.
A Bíblia permite, e até manda, que os filhos, ao se casarem,
deixem pai e mãe (Gn 2:24). Consequentemente, não somente os filhos devem
deixar pai e mãe, mas os pais também deixarão os filhos. É claro que isso não
quer dizer que os filhos nunca mais verão ou que abandonarão seus pais; mas
quer dizer que agora eles entrarão num outro relacionamento, diferente daquele
vivido com os pais.
Entretanto, se por um lado a Bíblia diz que os filhos devem
deixar os pais, e os
pais devem deixar os filhos, por outro lado isso nunca
acontecerá com duas pessoas casadas. Deus não quer que um cônjuge se separe do
outro (I Co 7:10-13). Enquanto os dois estiverem vivos, eles estão ligados um
ao outro, e nada, a não ser a morte, poderá separá-los (Rm 7:2-3).
Se não for pela morte, não há separação.
c. Torna dois numa só carne
De todos os
relacionamentos humanos, o casamento é o único que faz com que duas pessoas se
tornem numa só carne. Deus afirmou esta verdade quando instituiu o casamento na
criação, dizendo para o homem: “e serão ambos uma só carne” (Gn 2:24). O Senhor
Jesus confirmou essa verdade citando essas palavras ditas por Deus, quando
respondeu uma pergunta dos fariseus, dizendo que “assim não serão mais dois,
mas uma só carne” (Mt 19:3-6). Falando
da importância do casamento, Paulo também citou essas mesmas palavras (Ef
5:31).
Estas citações mostram uma diferença do casamento para os
outros relacionamentos. Quando nasce o filho de um casal, o relacionamento
entre pais e filho será o de pais e filhos, não de uma só carne. Quando filhos
de uma mesma família se relacionam, eles são dois irmãos (ou três ou mais), não
uma só carne. E mesmo quando uma pessoa se envolve em imoralidade com uma
meretriz, este ajuntamento é chamado de um “um corpo”, não “uma carne” (I Co
6:16).
A verdade de uma só carne não é alguma coisa que possa ser
dita de qualquer relacionamento. Além disso, duas pessoas não se tornam uma só
carne na consumação do casamento (pelo ato conjugal). Se tornam uma só carne
mesmo antes do ato. A partir do próprio casamento, Deus reconhece as duas
pessoas como sendo uma só carne.
O casamento provoca este milagre de transformar duas pessoas
em uma só carne.
Existem muitas figuras usadas na Bíblia para ilustrar o que
é a Igreja (e as igrejas locais) e como ela se comporta. Ela é chamada de
rebanho, lavoura, edifício, templo, etc. Mas nenhuma figura é tão linda, e tão
impressionante quanto a que vemos em Ef 5:22-33. De todas as figuras, a da
noiva é a única que apresenta a realidade de duas pessoas se relacionando.
Na figura do rebanho, vemos Cristo como Pastor. Na figura do
Edifício, Cristo é o fundamento. Na figura da casa, Ele é o dono e
administrador. Mas aqui, usando o casamento como ilustração, o Senhor Jesus é
visto como o Noivo que dá a Sua vida por sua Noiva, com o fim de deixá-la linda
e perfeita para o dia de casamento!
Nenhum outro relacionamento é usado desta forma tão sublime
e preciosa. Se a figura fosse de pais e filhos, ou de irmãos, ou de amigos,
jamais poderíamos ver a profundidade do amor de Cristo, como pode ser visto
aqui.
Quando Deus instituiu o casamento, Ele tinha na Sua mente
mais do que o relacionamento entre duas pessoas. Ele estava ilustrando o
relacionamento entre o Seu Filho e a Noiva que seria criada para Ele. E o
relacionamento entre Cristo e a Igreja é uma ilustração do tipo de
relacionamento que Deus quer ver no casamento.
Cristo amou a Igreja da forma como os maridos devem amar as
esposas.
Conclusão
Quando você pensa no seu relacionamento com Deus, você deve
lembrar que este é o mais importante, por ser um relacionamento eterno. Mas
entre seus relacionamentos humanos, nenhum é mais importante do que o
casamento, porque ele durará a vida toda.
Entre aqueles que leem este artigo, talvez alguns nunca
tenham pensado em se casar. Saiba que isto é Bíblico e natural. Mas entre
aqueles que pensam em se casar, ou que já estão casados, é bom lembrar o
argumento principal deste artigo – o casamento é diferente de todos os
relacionamentos pelos quais você passou e, mais do que isso, é o relacionamento
mais forte, duradouro e perfeito entre duas pessoas.
A pessoa com quem você se casará, ou já está casado, ficará
ao seu lado pelo resto da sua vida. Os anos que você passou na casa e companhia
dos seus pais foram poucos perto dos muitos anos que você ficará na companhia
de seu cônjuge.
Além disso, o relacionamento que você teve com seus pais,
apesar de forte e afetivo, não foi tão importante quanto o relacionamento com a
pessoa que você decide casar. Pode parecer absurdo, mas seu cônjuge agora é
mais importante na sua vida do que seus pais.
Que ninguém me entenda mal. Não estou tentando desestimular
pessoas a se casarem. Pelo contrário. O casamento é uma instituição divina,
planejado por Deus e perfeito para a felicidade de duas pessoas.
Minha intenção neste artigo foi tentar mostrar, de forma
simples, que você deve valorizar o seu casamento, evitando qualquer coisa que
possa manchá-lo ou diminuir seu valor.
E lembre-se, mais do que seus pais e filhos, seu cônjuge é a
pessoa mais importante na sua vida!